Em Hebraico Miriam é o Verdadeiro nome de Nossa Senhora que significa riam Deus e Mi muito Amada... a minha boca anunciará sempre o Vosso Louvor em todos os dias da minha Vida.Sou muito Amada por Deus porque posso anunciar as maravilhas que operastes em minha Vida.Na Paz de Cristo e no Amor de Maria !
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Às vezes, o retardamento em atender às preces é uma prova a que Deus nos submete. Mas Ele afinal se apresenta, assumindo a forma adorada pelo devoto persistente. Um cristão devoto contempla Jesus; um hindu vê Krishna ou a deusa Káli; ou então, uma Luz que se expande, se a adoração assume forma impessoal.
Paramahansa Yogananda
[Yogananda, Paramahansa. Autobiografia de um Iogue. Tradução de Adelaide Petters Lessa. – São Paulo: Summus, 1981, p. 204.]
No texto postado ontem neste blog, tratei das mediações de que o Sagrado se vale para se manifestar. Prefiro falar de Sagrado para denominar esta realidade transcendente a fim evitar dar uma conotação muito judaico-cristã ao assunto, uma vez que, em se tratando desta, eu teria que adotar necessariamente uma perspectiva monoteísta. Assim procedo porque as hierofanias, ou seja, as manifestações do Sagrado, acontecem em quaisquer religiões, sejam elas monoteístas ou não.
Faço aqui um parêntesis para esclarecer o seguinte: o inominável, que, por questões de comodidade e porque precisamos da linguagem para a ele nos reportar, nas religiões monoteístas recebe o nome de Javé, Deus ou Alá, ocupa, nessas religiões, o centro de toda sacralidade. Em outras tradições religiosas, porém, ele ocupa essa mesma centralidade, sendo-lhe atribuídas, porém, outras denominações.
Feito este parêntesis, afirmei no texto anterior que o Sagrado, ao se manifestar, o faz mediado tanto pela cultura quanto por fatores inerentes à psicologia do sujeito que o experimenta. Essa é a conclusão inevitável quando se faz um estudo aprofundado da história das religiões. Fica difícil, depois disso, falar de religiões verdadeiras ou falsas. Na verdade, é quase impossível fazê-lo. Isso não quer dizer, porém, que se possa defender o ponto de vista de que tudo o que dizem e escrevem em nome das religiões seja verdadeiro.
Existe o charlatanismo e existe, ainda, algo talvez muito mais grave e mais difícil de identificar, que é o autoengano. Quanto a esse aspecto, as religiões aparecem como um dos terrenos mais férteis. Quantos loucos e desvairados já apareceram ao longo da história da humanidade propagando as maiores asneiras e estultices, motivados por supostas revelações e inspirações divinas.
Em contrapartida, quantas figuras maravilhosas e iluminadas foram, em sua época, consideradas loucas, tornando-se, algum tempo depois, incensadas e reverenciadas devido ao reconhecimento do valor de sua mensagem e de seus atos. No caso da Igreja Católica, lembramos, por exemplo, a figura de Joana D´Arc, queimada na fogueira e, depois, reabilitada e elevada à glória dos altares.
Estou convencido de que o itinerário seguido por determinada pessoa em sua relação com o Sagrado, noutras palavras, a forma como ela faz sua experiência religiosa, é que dá o colorido dessa mesma experiência. Nesse sentido, tanto deve ser levada em conta sua idiossincrasias, suas características enquanto sujeito único e singular, quanto sua opção religiosa, pois, no trato com o Sagrado, os símbolos desempenham um papel fundamental. É nesse aspecto que as religiões dão uma contribuição muito importante. São elas que fornecem ao indivíduo os símbolos através dos quais ele pode elaborar e comunicar a sua experiência.
Para concluir, devo dizer que não tenho quaisquer dúvidas da veracidade do relato de São Franscisco de Assis sobre o episódio por ele vivenciado no monte Alverne, quando, após a visão da figura que se tornaria conhecida nos anais do franciscanismo como o Serafim alado, recebeu os estigmas de Cristo.
Da mesma forma, de maneira alguma questiono a veracidade da visão relatada por Paramahansa Yogananda no seu livro Autobiografia de um Iogue, em que ele fala da visão que teve de Krishna num momento crucial de sua jornada espiritual.
Ambas as experiências são verdadeiras, reais, e sua veracidade e realidade podem ser aquilatas pelas consequências que provocaram nos sujeitos que protagonizaram as duas hirofanias mencionadas. Foram ambas experiências transformadoras, deixando nos protagonistas marcas indeléveis. Essa é, sem dúvida, a afirmação maior de sua veracidade
Jesus parece distanciar de si a sua Mãe porque quer mostrar como se realiza a verdadeira intimidade com Ele: “fazendo a vontade de Deus”. E Maria durante toda a vida, desde o dia em que aceitou ser a mãe de Cristo até à cruz no Calvário, foi o sinal da adesão à vontade de Deus. Foi sempre a “pobre em espírito e a pura de coração” que constantemente se entregou ao seu Filho e Senhor com alma de criança inteiramente voltada para o Pai (cf. Mt 18,13). O escritor francês, G. Bernanos, no seu romance Diário de um Pároco de província, falava assim de Maria: “O olhar da Virgem é o único olhar verdadeiramente ´infantil´, o único verdadeiro olhar de criança que alguma vez se tenha levantado acima da nossa vergonha e acima da nossa infelicidade”. Reencontrar esta “infância” do espírito, redescobrir a pureza da fé operante é concretizar a declaração de Jesus, é estar na esteira de sua Mãe, é tornar-se para Ele irmão e irmã.
Maria é o símbolo da verdadeira parentela com Jesus, não tanto segundo a carne mas na plenitude da intimidade. Para usar uma imagem de Cristo, é tornar-se “semente caída em terra boa: tendo ouvido a Palavra de Deus com um coração bom e virtuoso, conservam-na e dão fruto com a sua perseverança” (Lc 8,15). O cristão há-de ter um coração como o de Maria que “observa a Palavra de Deus” e “faz a sua vontade”. É assim, segundo a expressão de Jesus, que nos tornaremos também nós de algum modo, “irmão, irmã e mãe” de Cristo.
[Ravasi, Gianfranco. Os rostos de Maria na Bíblia: trinta e um “ícones” bíblicos. Tradução de Maria Pereira – TRADUVÁRIUS, Lisboa: Paulus Editora, 2008, p. 253]
Acolher a palavra de Deus e deixar-se conduzir por ela sempre constituiu para mim um dos maiores mistérios cristãos. Sempre me coloco esta questão: o que é fazer a vontade de Deus e quais são suas implicações? Cada vez que me faço essa indagação, sempre me vem à mente a figura de Maria.
Na história do cristianismo Maria aparece, indiscutivelmente, como protótipo da pessoa que acolheu integralmente e sem meiasmedidas a Palavra de Deus, e, conduzida por ela, única e exclusivamente à luz da fé, realizou a vontade do Criador.
Maria cumpriu um itinerário previamente determinado, uma vez que ela não escolheu o caminho que queria seguir, tendo sido, antes, escolhida. A essa escolha, porém, que não foi feita por ela, mas por Deus, ela aquiesceu em dizer sim.
O sim de Maria pode ser considerado o ato fundador do cristianismo, pois foi com ele que toda a história da encarnação teve início.
É por ter cumprido tal itinerário que coube a Maria ser representada em um dos inúmeros ícones que enriquecem a iconografia mariana de origem oriental como a Odighitria, que quer dizer “Aquela que indica o caminho”.
Creio hoje, com a mais absoluta convicção, que tomar Maria como medianeira ao longo do itinerário que conduz a Cristo, é uma das formas mais seguras de precaver-se contra o risco de extraviar-se durante a difícil e tortuosa travessia.
Por que afirmo que essa é uma das alternativas mais seguras? Porque Maria trilhou, ela própria, o obscuro caminho do não saber, conduzida exclusivamente pela fé na Palavra. E porque trilhou esse caminho, ela, mais que ninguém, está apta a conduzir outros tantos que por ele se arriscam, nessa grande aventura que é o tornar-se discípulo de Cristo, o enviado de Deus, cujo receptáculo foi o ventre de Maria
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